.............................Quem luta, nem sempre ganha, mas quem não luta, perde sempre!

CANCIONEIRO DO NIASSA

CANÇÕES que fazem parte da Gravação da Rádio Metangula, da Marinha (Niassa, noroeste de Moçambique, em 1969, na voz de João Peneque.



O Cancioneiro do Niassa é um conjunto de letras adaptadas à música de fados e de canções, escritas entre 1967 e 1973 por militares portugueses que cumpriram a sua comissão no Niassa, noroeste de Moçambique, combatendo os guerrilheiros nacionalistas da Frelimo. O Cancioneiro do Niassa é, por isso, um valioso repositório daquilo que pensavam e sentiam muitos dos militares portugueses que foram mobilizados para a frente de batalha, em defesa do império colonial português.

Muito já se escreveu sobre o Cancioneiro do Niassa e muito mais se irá escrever ainda, com certeza. Permito-me, contudo, realçar aqui dois ou três aspectos que podem ser encontrados nestes poemas.

Um primeiro aspecto é a total ausência de ódio pelos guerrilheiros em particular e pelos africanos em geral. No caso dos guerrilheiros, então, chegam-se a encontrar manifestações de respeito e até de admiração, como no Fado do Turra, onde se diz a certa altura que os guerrilheiros têm «a alma nobre».

Em contrapartida, encontramos uma extraordinária violência no tom utilizado em relação à hierarquia militar (Hino do Lunho) e aos colonos da cidade de Lourenço Marques, actual Maputo (Fado das Comparações). Aqueles homens sentiam-se muito mais próximos dos guerrilheiros que combatiam, do que dos colonos por quem se sacrificavam.

Isto conduz-me ao segundo aspecto, que é o de que já se podem ver aqui as sementes do que viria a ser o 25 de Abril e a descolonização. Estes homens sentiam-se injustiçados, mas ainda não revoltados; por isso se serviram de fados para exprimir os seus sentimentos. No entanto, a revolta não tardou em chegar, com o derrube do regime em 1974. Lendo os poemas do Cancioneiro do Niassa, poderemos compreender melhor porque é que a queda do anterior regime foi obra de militares.